28 de novembro de 2010

Literatura Medieval


Medieval é um termo que se origina de duas palavras em Latim a primeira Med, quer dizer, “meio” e a segunda Eval, quer dizer “idade”, ao pé da letra, Idade do Meio.

A literatura medieval pode ser descrita como o conjunto de obras escritas na Europa durante a Idade Média (que abrange mil anos de historia entre a queda do Império Romano em 476 d.c até o inicio da Renascença Florentina no final do século XV por volta de 1453 d.c).

A literatura era composta nesta época por escritos religiosos e obras de autores anônimos. O campo de estudo da Literatura Medieval é complexo, pois inicia-se nos escritos sagrados e vai até obras mais profanas.

Devido ao longo período de tempo e espaço a ser estudado é difícil em linguagem simples caracterizar a literatura medieval, com itens que caracterizam outros períodos.

Como o Barroco, por exemplo, que foi um período estilístico e filosófico da História da sociedade ocidental, com data de inicio em meados do século XVI e final em meados do século XVIII. Possui como características o fervor religioso e a passionalidade da Contra-Reforma.

 

Historicamente falando, o Período barroco, vai de 1580 a 1756. O termo "barroco" advém da palavra portuguesa homônima que significa "pérola imperfeita", ou por extensão, jóia falsa. A palavra foi rapidamente introduzida nas línguas francesa e italiana.

Com o período Medieval não é possível traçar essas características já que existem problemas de lingüística, e cultural, pois as obras foram escritas por autores de varias nacionalidades da Europa, em varias línguas, sendo que nos escritos religiosos predomina o latim.


Exemplos desta diversidade cultural e lingüística pode ser visto em dois poemas clássicos da Literatura Medieval, o poema épico Beowulf escrito na língua anglo-saxã com emprego da aliteração.

Aliteração é uma figura de linguagem que consiste em repetir sons de sons consonantais idênticos ou semelhantes em um verso ou em uma frase, especialmente as sílabas tônicas. A assonância é largamente utilizada em poesias mas também pode ser empregada em prosas, especialmente em frase curtas.
O personagem Beowulf é lembrado até nos dias de hoje, onde teve sua historia contada em vários filmes de Hollyood.

Outro poema clássico muito lembrado é A canção dos Nimbelungos que foi escrito na Idade Média na língua alto alemão médio.



Este personagem também teve sua vida transcrita em filmes, um feito em 1923, e outro filmado em 2004 tendo o famoso ator Robert Pattinson (leia-se Crepúsculo e Lua nova) no papel de Sigfrido.

Estes dois exemplos ilustram bem o fascínio que as lendas européias exercem nos dias de hoje, e tais lendas são fruto da Literatura Medieval.





22 de novembro de 2010

Divulgação: Série Fatal Charm.


Lovely Wicked é o primeiro volume de uma série romântica, sobre um mundo fantástico, cujas fadas e mortais se embaralham. O romance apresenta a linda Aislinn, uma jovem que pode ver as fadas a sua volta, porém ela foi ensinada, durante sua vida toda, a fingir não vê-las. Enquanto lutava para lidar com essa vida atordoada, Aislinn conhece Keenan, a fada rei do verão, que tira sua mortalidade, pedindo-lhe para se tornar a rainha do verão e que ela derrote sua mãe, a Rainha de Inverno. Caso ela recuse, o inverno passará a tomar conta desse mundo, matar todas as fadas de verão e os mortais vivos. Aislinn possui agora a difícil tarefa de decidir a seguinte questão: ''Passar a viver no mundo das fadas para salva-las ou continuar com a sua vida de mentiras junto com seu melhor amigo Seth?''





Será lançado apenas em 2011.

Mais uma vez nos deparamos com história de amor e suspense, mas dessa vez os seres sobrenaturais são fadas.

A série Fatal Charm foi escrita por Melissa Marr, e editado pela Harper Collins. Atualmente a série possui 5 volumas, sedo eles: Ink Exchange (volume 2), Fragily Etenity (volume 3), Radiant Shadow (volume 4), e Darkest Mercy (volume 5) que será publicado apenas em 2011.

Divulgação: Série Georgina Kincaid.


Succubus Blus é o primeiro volume de uma série intitulada Georgina Kincaid, escrito por Richelle Mead. A história começa quando Georgina, a personagem principal, descobre que possui algumas características especiais, e então sabe de vez que é uma Súcubo, demônio que seduz homens e se alimenta da energia masculina. Fora este grande segredo Georgina parece ser uma adolescente normal, claro que não é a mais popular ou a mais bonita, mas é com certeza a mais atraente. Trabalha em uma livraria, possui um chefe bastante memorável e complicado. E finalmente, sente uma atração indistinguível pelo escritor de bestselers Seth, entretanto não possui coragem o suficiente para dizer o que sente.
A trama da série acontece quando criaturas sobrenaturais morrem misteriosamente e Georgina, a mando de grandes generais do inferno, se encarrega de descobrir alguma coisa sobre o suposto assassino. Neste cenário a existência de seres como vampiros, lobisomens, anjos e demônios são simultâneas e conviventes – Uma característica bem notável do Sobrenatural moderno.









No Brasil, os direitos autorais da obra já foram vendidos, mas não tem previsão de lançamento nem editora confirmados. Nos Estados Unidos a série já possui 6 títulos publicados: Succubus on Top (volume 2),  Succubus Dreams (volume 3),  Succubus Heat (volume 4),  Succubus Shadows (volume 5) e  Succubus Revealed (volume 6).

Divulgação: Série Evernight


Evernight é uma serie de Drama Feminino, baseado na história de Bianca Oliver, uma adolescente  de 16 que é enviada por seus pais para uma escola bem diferente de tudo que já viu. As aulas são a noite e os alunos são bem estranhos. Bianca não se sente a vontade em estudar naquele local. E também encontra muitos problemas para se entrosar com os seus novos “amigos”. Courtney e Erich são exemplos de garotos revoltados, que infernizam a vida dos menos populares. A companhia de seus amigos Balthazar e Raquel não são suficientes para lhe tirar da profunda angústia.
Até que descobre que parte da escola possui alunos especais: Vampiros, jovens que são enviados à Escola Evernight para se tornarem cidadãos, adaptáveis à sociedade humana e vampiresa. Como se não bastasse, apenas uma pessoa faz Bianca se sentir melhor o misterioso Lucas Ross, e é por ele que a moçinha se apaixona e vive um incrível romance, mas algo impede que esse amor seja eterno, segredos que podem separá-los para sempre. Bianca é uma vampiresa.
Lucas estuda na Evernight, como todos os outros, mas possui um legado que lhe compromete: É uma membro da Cruz Negra, uma sociedade sombria responsável pela destruição de vampiros na civilização humana.
E agora realmente este será um amor proibido, marcado pelo sofrimento, pela dúvida e pela escolha.

Atualmente a série é composta por 4 volumes, sendo um deles preste a ser publicado pela Editora Planeta, em Abril de 2011. Os títulos são: Evernight (Noite Eterna, Brasil), Stargazer (Caçadora de Estrela, tradução livre), Hourglass (Névoa do Tempo, tradução livre), Afterlife (Pós-Vida, tradução livre). O quarto livro está previsto para Março de 2011 nos Estados Unidos Pela Editora Harper Collins.




Como podem ver esse é um exemplo bem comum de drama feminino, composto por cenários bem familiares, e muito drama, envolvendo criaturas sobrenaturais e o clássico suspense.

17 de novembro de 2010

Análise da Obra: A Outra Volta do Parafuso, Henry James

 

Henry James nasceu em Noya York, em 15 de abril de 1843. Sua família vivia em Washington Square, elegante bairro da cidade, onde o garoto passou os primeiros anos de sua infância com seus irmãos, entre eles, William James, filósofo que viria a ser conhecido como fundador do pragmatismo. O ambiente familiar era declaradamente cosmopolita: o pai do escritor, que também se chamava Henry, era um intelectual muito rico - herança de avô que prosperara comercialmente - e acreditava que uma boa educação seria dada pelo contato com o mundo.

No círculo de amigos de seu pai, figuravam os filósofos Ralph Waldo Emerson, Henry Thoreau e o romancista William Thackeray. Ainda pequeno, o jovem Henry partiu para a Europa, onde passou muitos anos estudando em escolas na Inglaterra, França, Genebra e Roma. Durante esses deslocamentos pelo Velho Continente, o menino aproveitava todo tempo livre para ler, devorando bibliotecas, criando um gosto particular por autores como Honoré de Balzac, George Elliot e Nathaniel Hawthorne, que teriam grande influência em sua literatura inicial. Aos 19 anos, de volta à terra natal, James entrou para a Harvard Law School, mas o direito não era sua paixão verdadeira, e aos poucos o autor foi direcionando a vida para seu grande destino: a literatura.

Aos 22 anos, publicou seu primeiro conto, "A Tragedy of Error", e a partir desse momento se dedicaria apenas à literatura. Segundo conta o escritor Fernando Sabino, que traduziu um de seus contos mais geniais, "A fera na selva", quase nada aconteceu na vida do escritor - nada de especial, de excepcional. Mas ele destaca um acidente nas costas, que teria impedido James de se alistar para combater na Guerra Civil (1861-1865) - dois de seus irmãos mais novos se apresentaram e participaram da guerra, um deles salvando-se por um triz durante um combate. E isso, diz Sabino, fez com que Henry James se refugiasse, para sem­pre, na literatura: seu grande combate se deu com as estruturas narrati­vas, o autor foi um dos grandes inventores do flash-back e da narração indireta.


 É ao pé do fogo que Outra volta do parafuso começa. Um grupo de amigos, numa vés­pera de Natal, conversa e relata casos fantásticos, histórias de ar­repiar e dar medo. Um dos par­ticipantes dessa reunião, um tal Douglas, instigado pelo que ou­vira dos amigos, resolveu tirar da gaveta uma narração muito mais arrepiante do que todas as que eles tinham ouvido naquela sala. De­pois de escutar algumas histórias, como a do fantasma de Griffin, que aparecera a uma criança, ele revelou que a sua seria mais emo­cionante: "Se uma criança aumen­ta a emoção da história e dá outra volta ao parafuso, que diriam os senhores de duas crianças?". O clima de suspense não pode­ria ser maior. Com esse diálogo, Henry James praticamente cola o livro na mão do leitor. No en­tanto, todos terão de esperar um pouco pelo tão esperado relato, pois Douglas manda buscá-lo em sua casa, que fica em outra cidade. Sim, tratava-se de uma narrativa escrita, um documento que ele recebera da preceptora de sua irmã, que vivenciou o que será contado.

Quando o manuscrito chega, a história muda de narrador. Ago­ra, quem conta o assombroso episódio de duas crianças e dois fantasmas é a jovem governanta, de 20 anos, enfrentando seu pri­meiro trabalho. Filha de um pá­roco rural, ela seguiria a carreira de preceptora. Um dia, encon­trou um anúncio no jornal. Um homem milionário, sem nenhu­ma paciência para com crianças, procurava alguém para cuidar da educação de seus dois sobri­nhos, Flora e Miles. Eram filhos de seu irmão militar, que havia morrido com a mulher na índia. As crianças moravam em Bly, uma residência da família, no interior, com uma criada, Mrs. Grose. Miles, em idade escolar, tinha acabado de ser expulso da escola por motivos misteriosos.

Os dias em Bly seriam esplên­didos se não fossem os fantasmas de Peter Quint, ex-mordomo da casa, que tinha grande afeição por Miles, e da senhorita Jessel, a ex-preceptora, que morrera logo depois de deixar a casa. A jovem governanta começa a vê-los em vários lugares, como no alto da torre da casa, atrás de uma vidraça ou na escada em caracol. Ela tem essas visões e comenta com Mrs. Grose, que, ao escutar seu relato, reconhece os dois antigos empre­gados e passa a contar a relação deles com as crianças. Para a nar­radora, eles estão ali para se apos­sar das crianças e encaminhá-las para o mal. Como um detetive, ela vai investigando cada aparição, as reações das crianças, que pare­cem ser ambíguas, o motivo que fez Miles ser expulso da escola, etc. Ela age, em outras palavras, com todos os instrumentos da razão investigativa, para des­cobrir, porém, algo que escapa ao mundo racional e adentra o mundo das lendas de terror. Essa parece ser a mola propul­sora do romance, girando entre o racionalismo e o inexplicável, o que tem sua raiz no mito.

James tinha exata noção do que estava fazendo. Inicialmente criou uma narrativa de entretenimento, para o leitor se deleitar com a história. O livro, de fato, nasceu de uma encomenda de uma revista feita por uma empresa comer­cial para ser distribuída no pe­ríodo das festas, que ia do Natal ao Dia de Reis. O autor logo se lembrou de um serão na casa do bispo de Canterbury, quando este lhe contou uma história de duas crianças assombradas por fantas­mas, muna situação similar à do romance. James sabia que havia ali uma narrativa em estado puro, pronta para ser reaproveitada por um escritor e pesquisador das formas literárias como ele. E foi o que fez, percebendo que ali exis­tia algo do conto de fadas puro e simples - "salvo, com efeito, pelo fato de não ter despontado de uma credulidade espontânea e sem limites, mas consciente e cul­tivada", como escreveu em seus comentários ao romance.

O autor soltou, mas não intei­ramente, a corda da imaginação ao criar fantasmas diferentes de todos os que existiam na literatura até então, ao colocar duas crianças lindas e inteligentes, que gostavam de fazer encenações teatrais com sua governanta, no centro da ação e ao entregar a narrativa para uma jovem mulher, encantada com o homem que a contratou, com as crianças que teria de cuidar quase como uma mãe, suscetível à vida das crenças populares e, ao mes­mo tempo, racional e culta. Tudo é belo na construção do livro, todos os elementos alimentam a imaginação do leitor.

Como em muitas obras de James, Outra volta do parafuso parece driblar a possibilidade de uma leitura fechada, única. Como dizia Jorge Luis Borges, Henry James era mestre em criar "situações deliberadamente ambíguas e complexas, capazes de indefinidas e quase infinitas leituras. Eram livros, dizia escritor argentino, para o moiroso deleite da análise.

O núcleo central do romance é com­posto de poucos personagens: a narradora, Mrs. Grose, criada da casa, as crianças (Flora e Miles) e os dois fantasmas (Peter Quint e srta. Jessel). Há um outro ain­da, que passa rapidamente pelo romance, mas permanece do começo ao fim como uma som­bra, ou ainda, como um fan­tasma real, o tio das crianças, homem muito rico, solteiro, galanteador, que contrata a governanta com um estranho pedido: que ela jamais o inco­mode, em momento algum. Não importa o que acontecer, ele quer ser poupado.

Sua imagem atravessa o livro como um enigma sem solução; o mesmo enigma que o leitor aos poucos vai encontrando nas crianças, mas que é afasta­do pela pureza infantil. Se não for esticar demasiadamente a corda de um romance escrito com a intenção de entreter o leitor, esse enigma poderia ser o de classe social: os três per­sonagens estão na mesma es­fera de poder. Eles mandam e não podem ser contestados em seu poder de mando. É a lei dos mais ricos. Tanto é que quando a própria preceptora, por sua posição, tenta cruzar esse limi­te, o jovem Miles alerta sobre as diferenças que os separam socialmente.

Chega a ser interessante pensar, por essa via, que os dois fantasmas são de ex-em-pregados da casa, atraindo as crianças para o mundo deles. Cabe à nova governanta man­ter a ordem, para não deses­tabilizar a vida dessa estranha família. No jogo intenso de contradições, ela tem de man­ter a ordem de uma família que, afinal, já não existe en­quanto família, já se esfarelou na vida moderna. Mantém as propriedades, o dinheiro, o prestígio, mas não encontra mais unidade. Não caberia aqui comentar o final do ro­mance, outro enigma, ou ou­tra torção no parafuso, lança­do por James no caminho do leitor. Mas ainda se pode pen­sar num possível delírio da narradora, no seu afã de man­ter a ordem estabelecida e, de certa forma, não participar de sua própria classe social, a dos assalariados.

o resultado obtido por James em suas narrativas é sempre nuançado, "pois um personagem, através de seu en­tendimento e de sua visão, não é capaz de iluminar o quadro inteiro, mas tão somente par­te dele. Vastas zonas afundam, assim, nas sombras - e, nesse terreno sombrio,  instalam-se a ambiguidade, a incerteza, a desconfiança e a dúvida". E nessa sombra de difícil des­linde que o leitor penetra ao ler essa narrativa. E nela en­contra o prazer de se envolver numa história que é de assom­bro, causa medo e terror, mas que, como um fantasma, está no liame entre dois mundos: o do realismo, com suas relações diretas com a experiência so­cial inglesa, e o do puro voo da imaginação popular.

A Obra de Juan Rulfo


Entre os escritores hispano-americanos que encantaram e continuam encantando muitos   leitores,  amantes  da boa  literatura,  merece destaque o mexicano Juan Rulfo (1917 – 1986). Filho de proprietários de terras que foram arruinados com a revolução mexicana nasceu em Sayula, no estado de Jalisco, uma região de paisagem árida e desolada que exerceria uma influencia significativa na composição de sua obra.   Em sua vida teve varias profissões, estudou direito, foi funcionário do Serviço de Imigração, vendedor ambulante de uma pequena fabrica de pulque (bebida fermentada do liquido de determinado cacto), entre outros. Paralelamente escrevia contos que eram publicados em revistas literárias.

Em 1953 estes contos foram reunidos em um livro intitulado Chão em chamas. Nestes o autor procura abordar o lado negativo da revolução mexicana. Juan Rulfo costumava dizer que escrevia para combater a solidão. A mesma solidão sempre tão latente em seus personagens e onde figuram suas obras no vasto campo de estilos e tendências da literatura, pois além do livro de contos publicou apenas mais um romance em 1955, Pedro Páramo. Em ambos adotou uma expressão e uma técnica narrativas incomparáveis e até hoje inimitáveis. Depois disso entregou-se a um silêncio que duraria, apesar de sucessivas cobranças, até o ano de sua morte, em 1986.  De acordo com suas próprias palavras jamais conseguiu escrever qualquer coisa que valesse a pena publicar. A principal característica de seu estilo é o corte e a precisão: "No começo, você deve escrever levado pelo vento, até sentir que está voando. A partir daí, o ritmo e a atmosfera se desenham sozinhos. É só seguir o voo. Quando você achar que chegou aonde queria chegar é que começa o verdadeiro trabalho: cortar, cortar muito."

O resultado é um texto conciso e contido, mas de uma profundidade e uma amplitude social e humana que tem suscitado inúmeros e extensos tratados a respeito deste autor e de sua obra.



No romance Pedro Páramo acompanhamos a trajetória de um filho em busca do pai. A narrativa tem inicio quando Juan Preciado está a caminho de Comala, cidade natal de sua mãe, com o objetivo de cumprir a promessa que fez a esta em seu leito de morte: "Vim a Comala porque me disseram que aqui vivia meu pai, um tal de Pedro Páramo.  Minha mãe me disse.  e eu prometi  que viria vê-lo assim que ela morresse."

Ao chegar lá Juan preciado encontra apenas desolação e abandono. Seu pai, Pedro Páramo havia sido um grande proprietário de terras, o homem mais poderoso daquela região.   Posição que conquistara a custa de violências e extorsão.  Depois da morte deste a população não mais consegue resistir à miséria que assola a cidade e gradativamente a abandona. Assim a Comala que Juan Preciado conhece não passa de um  lugar em ruínas,  habitado por fantasmas e lembranças e envolvido por uma atmosfera nebulosa e sombria, assemelhando-se mais  aos sonhos  que a realidade. Ali, Juan Preciado vaga confuso e perdido entre pessoas que nem sabe mais se estão vivas ou mortas, pessoas que entre gritos e sussurros contam suas dores, que são também as dores do próprio México. Até que Juan Preciado não consegue mais suportar o peso daquela angustia e finalmente sucumbe: "Os murmúrios sussurrados me mataram. Embora eu trouxesse um medo atrasado. Tinha vindo se juntando, até que não aguentei mais. E quando me encontrei com os murmúrios minhas cordas arrebentaram."

A história não segue uma sequência linear. É composta, na verdade  por fragmentos que se confundem no tempo e no espaço, e que o   autor vai tecendo até formar um quadro representativo da situação social e rural em que se encontrava o México à época do romance. Em alguns momentos a narrativa é em terceira pessoa, em outros é em primeira, onde acompanhamos o ponto de vista de alguns dos personagens.

Apesar de ser um livro pequeno, Pedro Páramo abrange muitos temas em suas 137 páginas. Tendo no centro o personagem Pedro Páramo, um homem poderoso e cruel que vai se corroendo em vida por conta de um amor não correspondido, acompanhamos simultâneamente diálogos e monólogos que compõem outras histórias de violência, injustiça, vingança, resumindo são vários livros dentro de um só, como assinala o escritor Eric Nepomuceno. Com certeza vale muito à pena conhecer a obra deste autor, que apesar de pequena exerceu e exerce muita influencia pelo mundo afora.

11 de novembro de 2010

Análise da Obra: O Morro dos Ventos Uivantes, Emily Brontë



Detive-me durante semanas a imaginar o que diria aos leitores sobre esta obra, principalmente por que dela não posso me privar o direito de indicar e por se tratar de um dos romances mais profundos e belos do qual já tive conhecimento.

O Morro dos Ventos Uivantes de Emily Brontë figura na atualidade por constar na lista de livros preferidos por uma personagem do romance de Stephenie Meyer, Crepúsculo, série de grande aceitação do público Teen, porém desta informação só obtive conhecimento depois que li o livro.

Um ano antes de sua morte, em dezembro de 1848, a jovem Emily Brontë em dezembro de 1848, a jovem Emily Brontë, sob pseudônimo de Ellis Bell, publicava seu único romance, Wuthering Heights, que em português tornou-se conhecido com o titulo de O Morro dos Ventos Uivantes. Ela tinha quase 30 anos quando o livro saiu e uma experiência de vida marcada pela introspecção, pelo silêncio e pela timidez. Era uma jovem bonita mas que - até onde se sabe - não chegou a ter vida amorosa. No entanto, escreveu, em 1847, um romance desconcertante, uma obra de intensa dramaticidade, considerada uma das maiores do romantismo inglês.

Para George Bataille (1998) Emily parece ter sido entre todas as mulheres objeto de uma maldição particular. A sua vida curta só moderadamente foi infeliz. Mas, embora intacta a sua pureza moral, teve uma experiência profunda do abismo do Mal. Ainda que poucos seres tenham sido mais austeros, mais corajosos, mais retos, ela foi até ao fundo do conhecimento do Mal.

É Interessante compreender a natureza do Mal no romance de Brontë e perceber de que maneira essa jovem, criada em um ambiente religioso e austero pelo pai, vigário de Howarth, lugar isolado em Yorkshire, conseguiu tocar tão fundo a essência da maldade e do sadismo.

O leitor tradicional do romance pode resumir o enredo de O morro dos ventos uivantes a uma historieta de amor mal-resolvido, no seu extremo, um amor impossível, que persevera depois da morte da heroína, Catherine Earnshaw, e se torna centro irradiador do horror nas mãos do apaixonado Sr. Heathcliff. Mas, de fato, como sempre em um romance como este, é pouco. Há nele tantas tonalidades, tantas possibilidades de leitura, que as páginas se abrem para um universo complexo e de beleza ímpar. Bataille (1998) lembra que o "destino que, segundo as aparências, quis que Emily Brontë, embora bela, ignorasse completamente o amor, quis também que tivesse da paixão um conhecimento angustiado: esse conhecimento que não liga apenas o amor à claridade, mas à violência e à morte - pois que a morte é aparentemente a verdade do amor. Como também o amor é a verdade da morte".


Ilustração de Heathcliff


Emily vinha de uma família em que, como disse o crítico Otto Maria Carpeaux, todos tinham ao que parece, "capacidades geniais". A obra de Emily se destacou, em relação à das irmãs, ao longo dos anos e de releituras como uma estrela solitária, de beleza incomum. Segundo afirma Carpeaux (2008) "o problema dessas obras-primas estranhas, escritas por moças sem experiência literária nem experiências vitais, nunca será provavelmente resolvido por completo". Exagero ou não do crítico, de fato o livro de Emily parece ter brotado de uma vivência reclusa, introspectiva, de uma leitora apaixonada e de uma mulher com uma intuição e senso de observação além do comum em sua época.

Uma história de amor é uma história de amor - e aí não é preciso ter nenhuma intuição maior para relatá-la - mas a vereda violenta e ao mesmo tempo poética por que segue a narrativa só revela uma autora bastante sensível para captar o clima de sua época no ar e fixá-lo nesse todo inventivo que é um romance. Pode-se até dizer que há algo inverossímil na sua fabulação, no entanto, ela não despreza as regras do romance burguês - então um gênero novo, de apenas cem anos -, penetrando, com sutileza, nas camadas obscuras e complexas de seus personagens, fugindo de qualquer amarração estereotipada, que separaria, com rigidez moralista, os campos do Bem e do Mal.

Quase toda a narração sai da boca de uma criada, Nelly Dean, personagem envolvida com as duas famílias que polarizam o romance: os Earnshaw e os Linton. No entanto, o começo do romance está nas mãos do narrador, Sr. Lockwood, que aluga a casa de Trushcross Grange, originalmente da família Linton, agora administrada pelo Sr. Heathcliff, que mora perto, em Wuthering Heights. O próprio narrador explicará que o termo "Wuthering'' é um provincianismo, "que descreve o tumulto atmosférico a que este local está sujeito em época de tempestades". E é nessa casa que a história se situa.

Lockwood, espantado com a rude recepção do proprietário quando lhe faz uma visita de cortesia, acaba entabulando conversa com a criada que está a sua disposição na casa que alugou Nelly, ou Eilen, como também é chamada. Ele quer obter mais informações, e é ela que passa a relatar, com minúcias, a história das duas famílias e de Heathcliff, garoto que o Sr. Earnshaw encontrara faminto e abandonado nas ruas de Liverpool. O pai de Hindley e de Catherine chegou em casa com o menino, que acabou recebendo o nome de um filho anterior, que morrera ainda na infância.

Com todas as prerrogativas de filho, Heathcliff começou a ser bem cuidado e mimado, detonando um ciúme enorme em Hindley, que se sentia desprezado pelo pai. Catherine, de sua parte, tornou-se próxima do menino, e os dois viviam pelas charnecas, correndo e brincando, numa vida selvagem e sem regras. Uma espécie de idílio da infância. Mesmo depois, quando, com a morte do pai, Hindley assume a casa e espezinha o irmão adotado, tornando-o quase que um criado, Cathy continua ao lado de Heathcliff. E é esse amor que será a mola propulsora do romance. Diante da rudeza do amigo, ela prefere se casar com Edgar Linton, o vizinho rico, educado e de modos refinados, de Trushcross Grange.

Heathcliff, que a ouve dizer que jamais se casaria com ele, mesmo reconhecendo o amor que sentia, foge de casa e passa três anos fora. Catherine sofre por causa dessa ausência, pois reconhece o amor que sente, apesar de considerar a união entre os dois impossível. Ao voltar, Heathcliff quer, de qualquer modo, vingar-se de Edgar. Sente-se traído por Catherine, que trai, na verdade, a infância dos dois, a vida selvagem que levavam. Para Bataille (1998) em seu ensaio, ela traiu "o reino absolutamente soberano da infância, ao qual pertencia com ele de corpo e alma". No entanto, ele, agindo sempre de forma sádica, quer se vingar de Edgar.

Quando Catherine morre, de tuberculose, ele foge e se casa com Isabella, irmã de Edgar. Não por amor, mas por vingança, pois logo começa a castigá-la como um verdadeiro torturador. É o que também fará com Hindley, que, após enviuvar, abandona a educação do filho, Hareton, e passa a jogar e a beber morbidamente. Perde no jogo, se endivida, e Heathcliff acaba ficando com sua propriedade e todos os seus bens. O sadismo, como lembra Bataille, é o gozo "da destruição contemplada", "é o verdadeiro Mal; se mata por uma vantagem material, não é o verdadeiro Mal". E Heathcliff vive atormentado pela vingança c o pelo amor de Catherine, já morta.

O leitor, obviamente, tende a odiar o monstruoso Heathcliff e sua tortura incessante aos moradores da casa, todos arrastados por sua violência. No entanto, há momentos de intenso lirismo, que faz a balança pender um tanto e nunca parar apenas de um lado. Não haverá perdão à maldade de Heathcliff, mas Emily Brontë joga com a cisão inicial, a fratura no ambiente doméstico e burguês, com a entrada de um menino de rua, abandonado e faminto - algo que, simbolicamente, desestabiliza o fundamento em que se apoiava essa burguesia, com toda a sua cultura ornamental e dita racional.

Como diz Bataille (1998): "não há na literatura romanesca personagem que se imponha mais real e simplesmente que Heathcliff; ainda que encarne uma verdade primeira, a da criança revoltada contra o mundo do Bem, contra o mundo dos adultos, e, pela sua revolta, sem reservas, votado ao partido do Mal".

Porém o centro irradiador da ação do romance é a relação afetiva entre Heathcliff e Catherine, que vai se tornando a grande tormenta. Heathcliff e Catherine têm uma característica peculiar. Em vez de suas emoções habitarem os personagens, rodeiam-nos como nuvens tempestuosas, gerando os trovões que enchem o romance desde o momento em que Lockwood sonha com a mão na janela até o momento em que Heathcliff, junto à mesma janela aberta, é encontrado morto.

Esse amor, que é um verdadeiro tumulto, que é tempestuoso, toma conta de todo o romance e de todos os personagens; todos têm de sofrer a impossibilidade amorosa dos dois jovens - algo que lança sua raiz numa diferença de origem social e que, com o passar do tempo, torna-se um abismo e uma maldição. É algo que se irradia e vai apanhar Joseph, o criado da casa, homem profundamente religioso e ambíguo; que captura Hindley, irmão mais velho de Catherine, e seu filho desprezado, Hareton; que destrói Edgar Linton e sua irmã, Isabella; que massacra o jovem Linton, filho de Isabella e Heathcliff, que morre ainda jovem, usado pelo pai até o limite do insuportável e sufocado por toda essa tempestade; e que atinge ainda a bela Catherine Linton, filha de Edgar e Catherine Earnshaw, a quem caberá ao final a reconciliação entre o mundo rude e o culto, entre as duas casas nas charnecas.

Uma obra prima que do inicio ao fim cativa a cada linha, palavra por palavra, nos tocando o coração e a sensibilidade. Heathcliff e Catherine são as personificações do mais belo e ao mesmo tempo o mais terrível que se possa esperar do amor. Capaz de invocar o espírito da amada para cruéis e infindáveis somente pelo prazer de uma lembrança; que leva este amor aos mais ilimitados ódio, se desprende de toda a vida, abre mão do céu pois a vida reside ao lado do amor. É um romance que ressalta, ao invés de outros, os defeitos perversos de seus principais personagens, Heathcliff vingativo e cruel, Catherine orgulhosa e mimada, e desses defeitos se geram os tempestuosos conflitos sentimentais que se arrastam por todo o livro. Indicado a todos os públicos espero que todos leiam esta primorosa história.



REFERÊNCIAS

BATAILLE, Georges. A Literatura e o Mal. Lisboa: Vega, 1998. 186 p.

CARPEAUX, Otto M. História da Literatura Ocidental. Brasília, DF: Senado, 2008.